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Um dia 9

ARTE, SOM E VOZ: A cultura das radionovelas no cariri cearense de 1950







Hoje, 13 de fevereiro de 2017 é comemora o dia mundial do Rádio, criado oficialmente na Conferência Geral da UNESCO  em  2011. Em comemoração publico, em primeira mão, trabalho feito na disciplina  de Etnomusicologia do Prof Dr. Márcio Mattos de Aragão Madeira no curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Cariri, pelo discente Cláudio Wilbrantz no ano de 2016.    






INTRODUÇÃO




Próximos de comemorar 100 anos das primeiras transmissões radiofônicas no Brasil, que de acordo com Castro (2013), teve seu início em meados da década de 1920, e a procura do resgate da memória das radionovelas na cidade de Crato, é que se deu essa pesquisa. Foi um médico, entusiasta da radiodifusão, chamado Roquette Pinto, que “pesquisava a radioeletricidade para fins fisiológicos”, que convenceu a Academia Brasileira de Ciências a patrocinar a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Assim, em razão da comemoração do centenário da Proclamação da República, no dia 07 de setembro de 1922, a fala  do presidente Epitácio Pessoa inaugura a radiotelefonia brasileira.
Contudo, com um transmissor instalado na Escola Politécnica do Rio, doado pela Casa Pekan, de Buenos Aires, a rádio propriamente dita, só começaria a operar, em 30 de abril de 1923. E de acordo com o autor, “as primeiras emissoras eram clubes ou sociedades de amigos, em geral, nascidas da união de curiosos encantados com a sensacional novidade”.    

A primeira emissora radiofônica cearense, Ceará Rádio Clube, surgiu modestamente, operando em ondas curtas em 1940, período, no qual o rádio comercial já despontava em todo o Brasil. No dia da inauguração das instalações da rádio,  em 12 de outubro de 1941, conforme Rodrigues e Silva (2009) o jornal “O Povo”  publicou um caderno especial sobre a inauguração, onde a publicação trazia como título: “A Voz do Ceará – Inaugurada oficialmente a Emissora de Ondas Curtas de Fortaleza”. O jornal destacava ainda que, o evento agruparia, em definitivo, “a emissora cearense à grande radiofonia brasileira (RODRIGUES e SILVA, 2009).

No sul do Ceará, na região conhecida por Cariri Cearense, a implantação da rádio na Cidade de Crato, foi quase que simultânea ao que se sucedia na capital Fortaleza, Júlio Saraiva Leitão, então secretário de urbanismo inaugura o Serviço de Alto-falantes da Amplificadora Cratense, e nos moldes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, mantinha programação variada. Certamente uma escola de radiofonia, nos falam as autoras (2011), que haviam cerca de 30 autofalantes espalhados pelas ruas da cidade do Crato, uma espécie de “mini emissora” que funcionaria como embrião da atual Rádio Araripe (SILVA e REBOUÇAS, 2011).
Em meio ao sucesso da radiodifusão pelo país a Rádio Araripe AM de Crato, fundada por Assis Chateaubriand em 1951 onde passava ser a terceira rádio do estado e logo após, a rádio Educadora do Cariri AM, é a segunda mais antiga da região, foi fundada em 1959 e conforme Brito e França Junior (2011) a emissora é educativa e faz parte da Fundação Padre Ibiapina, é uma entidade filantrópica sócia educacional da Diocese do Crato.
Com a popularização e o acesso do rádio entre a população, muitos artistas passaram por esses anos, pelas rádios do Crato, é o que nos relatam os autores, que nos cantam que nomes consagrados de artistas nacionais como Luiz Gonzaga, Carlos Galhardo, Ivon Cury e Ângela Maria foram algumas das muitas atrações que por aqui estiveram. Ainda, em 1955 a rádio Araripe contratou a orquestra Cassino de Sevilha da Espanha que tocou em seu auditório (SILVA e REBOUÇAS apud CABRAL, 2011 ).
O rádio é sem dívida um dos mais importantes meios de comunicação que existiu e ainda se faz presente em nossa sociedade, desta forma justifica-se tal estudo. Posto isto, esse artigo procurará mostrar a relação e as influências que uma de nossas entrevistadas teve, não só das músicas do rádio, mas, também da radionovela que criou um novo mundo mágico e mudou a história de muitas vidas. 

80 Anos da radionovela no Brasil, 80 anos de sonho da Maria das Dores



As rádios, que nessa época tinham auditórios, além das programações musicais em sua grade programação, tinham o que se convencionou chamar de radionovela, nos fala Castro (2013), que a novidade chegou ao Brasil por volta de 1935, mas foi a partir 1945 que se começaram as grandes produções do teatro de rádio, o que se tornaria num grande êxito. As Pupilas do Senhor Reitor, A Força do Destino e Simplesmente Maria são exemplos de obras de alto custo que envolveu grande elenco e foram retransmitidas em quase todo o país.

No Crato isso não fora diferente, a rádio Araripe além dos noticiários, crônicas, reportagens, entrevistas e programação musical tinham em sua grade de horário o programa Vesperal das Moças (Rádio Teatro), que iniciava às 16 horas, com apresentação de Maria Alaô, e possuía “rádio atores” conhecidos da região, dentre eles Wilson Machado, Cirilo Cardoso e Karla Peixoto, o patrocino vinha do comércio local (SILVA e REBOUÇAS, 2011).     
A coleta da entrevista e da música foi feita na casa de Maria das Dores Simplício em novembro de 2016, ela mora na cidade do Crato, que fica no extremo sul do estado do Ceará, localizada a pouco mais de 500 km da capital Fortaleza e que faz divisa com o estado do Pernambuco, É uma das principais cidades do Vale do Cariri cravada ao pé da Chapada do Araripe.
Ela nos conta como uma jovem atriz e cantora fora influenciada pela cultura de radionovelas e os artistas das rádios. Divertia-se muito enquanto ouvia no rádio da casa da amiga D. Ronilda Duarte, 83 anos, que considera com uma irmã, as aventuras transmitidas em ondas médias, se impressionando com os efeitos sonoros produzidos pelos artistas das radionovelas. Maria Simplício nasceu e viveu grande parte de sua vida em Lavras da Mangabeira, que fica cerca de 70 km da cidade do Crato, morava com a mãe e a tia em uma casa de taipa de chão batido, o pai de sua amiga é que era o dono da terra e que mais tarde foi doada para ela. Foi em meio a esse panorama que Maria Simplício cresceu.
Quando começou suas apresentações em shows de rádios, praças e teatros da região, ainda jovem aos 16 anos permanecendo por cerca de 20 anos nesse meio. Quem a acompanhava nos “dramas” uma forma de teatro cantante, era sua amiga Ronilda e os irmãos Geraldo e Sebastião Duarte, que tocavam violão e pandeiro respectivamente. Uma das peças que lembra chamava-se “A beradeira e a praciante” um esquete que contava a história de duas moças uma da cidade e outra da roça.
D. Maria não almejava nenhum profissionalismo, muito pelo contrário sonhava ser professora, o quê conseguiu. Logo após ter terminado a sua alfabetização passou a ensinar na escola onde aprenderá o “abc”, permanecerá por ali alfabetizando por muito tempo, quando suas filhas nasceram, voltou-se para a criação delas, deixando de cantar e alfabetizar. 
Enquanto gravávamos D. Maria cantou Assum Preto, e Triste Partida de Luiz Gonzaga e Patativa do Assaré, respectivamente. Mas, o que chamou a atenção nossa, que foi parte do nosso estudo, uma bela canção, a qual ela não soube atribuir, nome, a autoria e nem a data em que a tinha ouvido pela primeira vez, mas que fazia parte de seu repertório nas apresentações que fazia, abaixo pode ser conferido à letra da canção.
Vai que tu és o culpado
E eu não sofro nada pela separação
Eu vivo triste sem carinho
Cantando baixinho com o meu violão
Quero-te ver chorando
Implorando o meu perdão
Vou te pagar na mesma pena
Que a justiça te condene
Pela sua ingratidão


Atualmente, com 80 anos D. Maria Simplício mãe de 02 filhas, avó de 06 netos e 03 bisnetos, nos conta que suas influências do rádio foram Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Dolores Duran e Emilinha Borba. Quase sempre cantarolando suas musicas prediletas, não foi difícil entrar na carreira artística e para começar a cantar em festas de aniversário e renovações não foi muito difícil. Entretanto a dificuldade de ser uma artista mulher, em uma época em que havia um imenso preconceito, principalmente pelo fato de trabalhar com teatro cantante, foi sem dúvida a parte ruim, contudo sorrindo nos diz que faria tudo novamente.

Academiando o som


Após o processo de coleta de todo o material adquirido durante a entrevista foi possível reescrever e organizar a música selecionada para gravação. Contudo, algumas palavras foram alteradas, e a tonalidade cantada por Maria Simplício agora foi ajustada para uma interpretação na voz masculina. Em principio procurou-se adaptar o ritmo colhido na entrevista, inicialmente um bolero, mas chegou-se à conclusão de que o formato de um samba seria mais atrativo, para a proposta da letra e a harmonia. O resultado final deste trabalho além deste artigo foi de um belo samba-canção (enquanto se escrevia este artigo o material gravado ainda não havia sido finalizado pela equipe), cantado na tonalidade de Lá maior, a gravação da música aconteceu na Universidade Federal do Cariri no dia 13 de janeiro de 2017 e contou com o apoio e a criação harmônica de piano com Elihoenai Hatus Quemuel e voz de Cláudio Mario Wilbrantz, ambos discentes do 6º semestre do  Curso de Música-Licenciatura da UFCA.

CONCLUSÃO


O fazer musical é um longo processo que requer muita paciência e disciplina, ninguém consegue acordar pela manhã com uma canção completa cheia de acordes e harmonia em perfeita simetria. E quando se trata de reescrever uma canção isso se torna um processo ainda mais complicado.

Foi o caso desta canção que ora apresentada, deu a oportunidade de conhecer um pouco de uma arte que anda um pouco sumida nos dias de hoje. A música escolhida, para este trabalho não vinha de uma tradição de vozes do rádio como se supunha a pessoa entrevistada, sequer sabe dizer quando e como a ouviu pela primeira vez, dado à sua avançada idade e a memória por muitas vezes lhe faltar, pode ser que nem tenha sido usada por ela nos seus repertórios, contudo deixa uma lacuna para uma futura e possível investigação.
Nessa busca etnológica das tradições descobriram-se também outras informações importantes, como a criação dos primeiros veículos de informação na cidade de Crato e também como se deu a história do rádio no Ceará.
A transcrição para notação musical do quê se conseguiu coletar, com a sua estética original assim como o valor social que tal música ofereceu-nos por si só já traria grande acréscimo à pesquisa, mas não se pode deixar de mencionar a associação que agora se faz, do quê representou para esta senhora o fazer musical, suas apresentações, até mesmo em sua atividade profissional como alfabetizadora, ainda que inconsciente. Esse é o “milagre” que a música produz, além do que é perfeitamente compreendido através da melodia, ritmo e harmonia. 
Certamente essa pesquisa antropológica vem acrescentar ao material já publicado por outros, no que diz respeito à história da mídia na região, mas o que dá mais alegria é o fato de ter conhecido ainda que superficialmente, a história de alguém que teve sua vida transformada pela música há mais de 60 anos.
Para ouvir a gravação original da pesquisa, clique aqui



 
  

Eu quero o troco de um centavo

Em outra oportunidade contarei do recesso deste blog e as experiências de estar afastado das mídias em geral, por um período longo, aguardem.


********* Retomando os sentidos e objetivos de uma consciência livre a Bola da Criança Livre está orgulhosamente procurando por adjetivos e sinônimos que possam resumir o quê essa galera maravilhosa da Banda Nuverse (CE) está apresentando à nós, em 1,99. Jéssica a vocalista, que têm um potente contralto e uma perfeita dicção, consegue interpretar com maestria suas poesias quase subversivas, cantadas nuas e cruas, oscilando em médios graves e agudos singelos ela mostra o quê se pode extrair da indignação popular. Ainda, é preciso dizer da engenharia musical, das ondas de frequências produzidas por Jean (multi instrumentista)  Pedro, Leeyuri e Hugo que montaram uma excepcional estrutura, pra que as poesias de Jéssica se encaixassem suavemente, sutilmente Nuverse.

Nuverse: 1,99 Letra - Jéssica Xavier Música - Jean Paulino

Eu não sou contra o nosso samba
A minha vontade é de sambar
Na cara daqueles que me vendem como objeto
Te convido a vir sambar
Sambemos na avenida esburacada
Da fadada hipocrisia desta festa
De um povo que se ilude facilmente
Com tanta purpurina
O mundo acaba e ela quer sambar
Vendem-se as mulatas
E a nobreza do seu samba
Na tela da TV da sala de estar
Na TV da sala de estar
Um e noventa e nove cada
Um e noventa e nove
Você não vale um tostão furado
Um e noventa e nove cada
Um e noventa e nove
Pelo meu Brasil desmascarado
Eu quero o troco de um centavo
De um centavo
Eu não sou contra o nosso futebol
A minha vontade é de driblar
Todos os problemas de saúde dessa gente
Que paga com a própria vida
Mas esse jogo não é feito de escolas
Não será feito de hospitais
Se quando essa gente gente se machuca
Vai pra fora cirurgia na Europa

PSEUDO

“Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.”  William Shakespeare (mais)

Não lhe parece engraçado, por um momento tudo é tão lúdico, surreal e maravilhoso. De repente num piscar de olhos, algo muda e você passa a ter uma alteração da percepção da realidade? Sua alma passa do estágio do sentir ao de enxergar, onde em determinadas situações o seu corpo era quem comandava esse momento de total escravidão, de ser o objeto do prazer.  Essa percepção de uma realidade às avessas é muito comum logo após passarmos por uma situação de frustração de perder algo, ou alguém. Observe por exemplo o prazer de alguém bebendo, socialmente, uma bebida alcoólica. Naquele instante o prazer comanda todo o seu ser, a liberdade das criações, da realidade distorcida, são projetadas na mente, e este passa a ter a sensação de bem estar. Isso acontece também aos enamorados, substâncias químicas que começam a agir e transformar o corpo, levando à mente a busca do prazer. Quando esse sentimento termina, o corpo começa sentir a falta e passa a solicitar à mente que o guie em busca de mais prazer. Nessa abstinência química o corpo passa a procurar insanamente a mesma droga, ou uma mais potente para substituir a ânsia que a falta daquela lhe faz. Se neste período sua alma tomar a direção do corpo novamente, o ser conseguirá olhar além e ver que o abismo não passa de um degrau onde bastará apenas firmar os pés e continuar a subir, do contrário o corpo o guiará aos prazeres maiores que só os que estão no abismo experimentam para se deixar sucumbir.

MEU JARDIM