Timidez é normal e evita que se cometam excessos. É uma espécie de freio, que só se transforma em problema quando está muito puxado e não deixa a vida andar.
ELA, A TIMIDEZ
Acreditava que por timidez é que escrevia,
Por não saber falar,
Pelos obstáculos de encarar a verdade
Que me atormentava,
Abalava, sacudia.
Do receio de abrir a sua boca.
Muitos crêem que escrevem por covardia
Me declarava para quem gostava do papel,
E não pela pele,
Nas cartas de amor, que fazia.
Mesmo que as folhas fossem
Feitas da pele de um figo.
O figo, bem como a poesia,
É descascado com as unhas,
Dispensando facas e canivetes.
Não consigo descascar laranjas
E olhos com minhas unhas,
Mas sim com meus dentes.
Com minhas mãos,
Posso descascar a boca do figo
E o figo da boca, mais nada.
Pensei mesmo que escrever fosse uma fuga,
Pedra estranha, silêncio dissipado,
Um subterfúgio,
Que não assumia uma postura
E procurava me esconder,
Me retirar,
Reduzir.
Não.
Escrever é queimar o papel de qualquer forma.
Desde o inicio, a maior coragem,
Nunca uma renuncia,
Nunca um retrocesso,
Mas sim progressão e crédito.
Não falar de si, mas falar como se fosse outro.
Deixar o retiro da voz
Para fazer letra acompanhada,
Emendada.
Sempre dependendo da próxima palavra
Para alongar a respiração.
Baixa-se o rosto para elevar o verbo.
É necessário muito mais coragem para escrever
Do que falar,
Porque a escrita não depende somente do poeta.
Nasce no momento em que a poesia é lida.
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